quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PQP a anorexia

A anorexia é uma doença que eu não consigo compreender. Não consigo mesmo. Já tentei, já perguntei, já pesquisei e mesmo assim não consigo chegar a nenhuma conclusão. Não tenho respostas para as minhas perguntas.
Uma colega de turma está a lutar contra essa doença há demasiado tempo. Mas há tanto tempo que nem sei como consegue. Já esteve internada duas vezes e diz horrores daquilo. E numa coisa eu concordo com ela - esta doença é, acima de tudo, psicológica. Está na cabeça e é a cabeça que se tem de tratar primeiro. O corpo vem depois. O problema é que começam pelo corpo e a cabeça não consegue acompanhar. Ou seja, até pode ganhar peso e estar mais saudável, mas a cabeça vai continuar a dizer que está gorda, que tem que emagrecer, que não pode comer. Foi o que lhe aconteceu.
O ano passado essa minha colega veio estudar para longe de casa mas pelo que dava a entender estava a safar-se muito bem. Obviamente que quem a via identificava imediatamente a sua doença (ela também não tentava nunca disfarçar) mas andava muito bem controlada, com consultas todas as semanas e a contar o aumento de peso às miligramas.
Este ano ela foi de Erasmus para Espanha. É discutível, eu sei, mas quem somos nós para julgar? O que é certo é que aquilo não deve ter corrido muito bem e voltou a ficar internada. Num hospital espanhol. Sem qualquer contacto com o exterior - incluindo os pais! Imagino o horror, o medo, ... fiquei sem palavras quando li o que escreveu. Arrepiei-me. Senti-me sem chão. Nem consegui pôr-me na situação dela porque, de facto, só sabe como esse processo é horrível quem passa por ele. Não ver sequer os pais? Não ter contacto com o exterior? É horrível.
Disse que só quando chegasse aos 53kg é que poderia sair do hospital. Oi? 53kg? Isso é menos do que eu peso e não me considero minimamente anorética. Quanto tempo terá que ficar internada? Quanto tempo demora a recuperar quase 20kg?
O meu coração está com ela. A minha força também. Ela é boa pessoa, é forte, é culta, é inteligente e sei que vai conseguir ultrapassar isto, mas também sei que lhe vai custar imenso.
Esta doença é tão estúpida, tão silenciosa e tão fatal que eu nem a consigo descrever.
Temos que aprender a gostar de nós como somos. Todas temos imperfeições, todas temos celulite, ou estrias ou meia dúzia de quilos "a mais", e daí? Somos menos bonitas, menos interessantes, menos cultas por causa disso? Eu também já fui muito crítica com o meu corpo - a adolescência é tramada para todos - mas felizmente consigo agora conviver muito bem com o que tenho. Sim, ando no ginásio e sim, tenho mais cuidado com o que como. Mas não fico obcecada com isso. Se me apetecer comer uma pasta de chocolate como.
A Joana vai ficar boa, vai voltar para perto de nós, vai voltar a ter a alegria e a força que acredito que tinha antes desta maldita doença se apoderar dela. Eu sei que vai ser capaz. Este post é para ela, apesar de saber que provavelmente não o vai ler, e para todas as Joanas que estão desse lado. Lembrem-se que vocês são lindas de todas as maneiras possíveis e imaginárias e não deixem que ninguém vos diga o contrário!


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