quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

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A minha opinião sobre mais dois filmes que estão a caminho dos Oscars e que têm mais uma particularidade em comum: Janelle Monáe. Já lá vamos. E outro filme que não estando na corrida aos prémios de mais destaque em Hollywood, mas que conquistou Cannes e não só. Ora leiam e depois digam-me de vossa justiça:

Elementos Secretos (7,9 IMDb)
O trailer despertou o meu interesse, principalmente depois de perceber a temática. Vocês sabem que o racismo é o meu assunto favorito no cinema, então se forem histórias reais, melhor ainda. Neste caso, sabem quais foram as cerejas no topo do bolo? Octavia Spencer, Kevin Costner e Jim Parsons (sim, o Sheldon!). Mas para não variar, já me estou a adiantar.

O filme é mesmo muito bom. Tem um elenco de luxo, cheio de surpresas boas (quiéisso Janelle?!) e um cheirinho de As Serviçais. O tom é o mesmo que neste filme: assuntos sérios tornados leves pela genialidade das personagens. Há piadas muito boas, há bons diálogos, bons cenários, bom enquadramento... É um assunto muito revoltante mas que é contado sem apontar culpas, sem segundas intenções. Simplesmente mostrar o que se passava nesses dias. E o que é que se passava? perguntam-me vocês. Bom, o filme relata a história real de três brilhantes mulheres negras, cheias de piada, educadas, confiantes e que foram contratadas pela NASA para ajudarem a colocar o homem na Lua. Para que isso acontecesse, estas três incríveis mulheres tiveram que lutar contra uma sociedade machista, racista que insistia que o sexo feminino não pode nem deve sair de casa e "abandonar" os filhos para ir trabalhar - muito menos que tivessem um emprego tão sério e de enorme responsabilidade como era o caso.

É uma história sobre perseverança, sobre confiança, lealdade, força interior, sobre a amizade e as relações, sobre a justiça e sobre os obstáculos que devemos derrubar e que nos separam do sucesso e da realização pessoal. É um filme-lição que nos permite rir e, ao mesmo tempo, largar uma lágrima de vergonha por termos tido a coragem de construir tais barreiras (físicas, psicológicas e emocionais) entre os sexos e as raças.
Este é para verem!

Moonlight (8,1 IMDb)
Bom, aqui está um bico de obra para mim. Mais de uma semana depois de ter visto o filme, ainda não consegui formar uma opinião concreta sobre ele. Gostei, sim, mas não sei até que ponto.
Moonlight é um filme que descreve a vida de Chiron, um miúdo negro que vive nos subúrbios de Miami. Sofre de bullying, não conhece o pai, a mãe é uma drogada negligente, e vai descobrindo, ao longo da história, que é gay. Pelo caminho, encontra um homem, Juan, que quer ajudá-lo e acompanha o seu crescimento juntamente com a sua esposa, Teresa (Janelle Monáe, de novo) e que o "criam" em sua casa como se de uma família se tratasse. Porém, Juan é um traficante de droga mas que, ainda assim, conseguiu ser a melhor influência na vida e na educação de Chiron.

O filme descreve, essencialmente, a busca da identidade: quem sou? qual é o meu caminho? o que faço aqui? qual é o meu propósito? Tanto é que está dividido em 3 capítulos: 1. Little, que mostra Chiron na sua infância, adotando o nome que os "amigos" lhe davam, por ser magro e pequeno. É aqui que a história começa e que vamos percebendo os traumas da criança - que raramente fala. É neste capítulo que contacta com Juan que lhe mostra que deve lutar por quem é, deve ter uma voz e fazer-se ouvir. Este foi o momento mais definidor da sua identidade No segundo capítulo, 2. Chiron, a personagem principal, já um adolescente, começa a ser tratada pelo seu nome próprio, há mais consciência de quem é e uma tentativa de abraçar as suas diferenças. É também aqui que tudo começa a piorar: o bullying, o consumo da mãe, o abandono, e a morte (subentendida) de Juan. O terceiro capítulo 3. Black, já adulto, Chiron volta a ser chamado pela alcunha dada pelos outros, mas agora é um traficante badass, rico, bonito e musculado que decidiu afastar-se daquela região e refazer a sua vida. Aqui faz de tudo para esconder a sua personalidade e a sua identidade: inseguro, traumatizado e gay.

A cadência do filme é lenta, subentendida e, por vezes, abstrata. Os diálogos são poucos mas bons, as personagens são boas, mas aqui tenho mesmo que dizer que o filme é 100 vezes mais interessante por ter Teresa nele (Janelle). A nomeação de Juan poderá ser um pouco exagerada, mas só depois de ver todos os filmes é que vou ter uma opinião concreta.

Estava a dizer-vos que ainda não sei qual é a minha opinião exata sobre este filme porque se por um lado tem um ar independente e bem feito, por outro parece-me uma história básica e até bastante estereotipada. Um negro pobre, que sofre de bullying, uma mãe negra drogada, quase prostituta, que vivem em bairros sociais. Há o amigo hispânico e ele torna-se drug dealer, tal como se tinha previsto.  Não sei, parece-me básico, previsível e sem um conteúdo realmente inovador. Porém, ninguém pode negar que é uma história bem contada, com ótimos atores.

Vejam e depois discutimos sobre isso ;)

Eu, Daniel Blake (8,0 IMDb)
Ainda estou em choque com este filme. A sério. Partiu-me o coração a meio. E foi tão grave que nem consegui chorar... Estava tão incrédula e ao mesmo tempo tão consciente de que aquilo era mesmo a realidade de várias pessoas, que nem conseguia chorar. Penso que passei o filme inteiro tensa, ansiosa, sufocada, cheia de vontade de ajudar o pobre homem que só queria que alguém tivesse algum bom senso.

O filme relata a vida de um homem honesto mas doente que é obrigado a trabalhar pela Segurança Social para se sustentar, apesar dos médicos o terem proibido de fazer. Assim, vê-se envolvido num esquema labiríntico de burocracia, de números e papeladas, de processos que foram feitos a pensar em máquinas e não em pessoas reais, com dificuldades, com sentimentos, com histórias para contar. A ele junta-se uma família constituída por uma mãe e duas crianças que mal se consegue sustentar. 

A história é extraordinária e horrivelmente tocante. Aquela mãe extremosa que faz de tudo pelos filhos, o próprio Daniel que é um amor de pessoa, que ajuda o próximo sem pedir nada em troca. Até os cromos dos vizinhos... Mas tenho mesmo que sublinhar a cena no Banco Alimentar. Partiu-me mesmo o coração. Nunca mais me vou esquecer disso. Há uns tempos comecei uma formação - interrompida, entretanto - que debate muito sobre estes temas da caridade, solidariedade, responsabilidade social... Enfim, e num destes dias, a formadora dizia-nos "Vocês já imaginaram o que é para uma criança ter que esperar nas escadas, enquanto que a sua mãe está na fila à espera para lhe darem o jantar? A única refeição que vão fazer naquele dia? Vocês já pensaram nas memórias que aquela criança vai ter no futuro?". Caraças que isto tocou-me. E no filme está ali presente tudo aquilo que falamos. Tudo. Falamos da dignidade humana, do direito a ter uma voz, a serem ouvidos, compreendidos e respeitados pelo sistema. Porque o sistema é suposto melhorar a vida das pessoas e não o contrário.

Desculpem não estar a ser, talvez, muito coerente neste meu texto, mas este filme mexeu mesmo com o meu sistema e apenas me pôs à frente dos olhos a realidade que tenho ouvido falar. Mais um que é obrigatório, sim?


Sticky&Raw
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2 comentários:

Anónimo disse...

E Manchester By The Sea? Ainda não foi desta?

Sticky and Raw disse...

Manchester by the Sea vai ser visto no domingo à noite no Cineclube. Ando a controlar-me para não o ver mais cedo ;)
Costuma-se dizer que o melhor fica para o fim.
Para a semana falo dele, prometo!