quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

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Chegou a minha altura favorita do ano no que ao cinema diz respeito. O meu único dilema é escolher o melhor filme para ver. Até agora, tenho deixado para o fim aqueles que eu acho que vou gostar mais (The Post e The Shape of Water). Assim, cá estou eu para mandar alguns bitaites sobre os filmes que estão nomeados para as mais variadas categorias na cerimónia que vai acontecer no domingo, dia 4 de março. Vamos a isso?

3 Cartazes à Beira da Estrada
8,3 IMDb
Vi este filme antes da maioria dos outros filmes nomeados. E disse "este é o vencedor". Ou, pelo menos, para a Frances McDormand vai ser limpinho, limpinho... Entretanto já vacilei um bocadinho. Vi o Eu, Tonya e, confesso, não me importava nada que a Margot levasse a estatueta. Mas voltando ao filme.

3 Cartazes à Beira da Estrada não é um drama nem é uma comédia. É uma mistura perfeita entre os dois. Uma mãe muito revoltada pela passividade da polícia que nunca se empenhou em descobrir o violador e assassino da sua filha adolescente, decide alugar três outdoors gigantes, junto a uma estrada e deixar a sua mensagem de forma clara e inequívoca. Claro que essas frases não foram bem recebidas pela pequena comunidade de Ebbing, muito menos pela polícia que era incompetente e desleixada. Mildred (a personagem principal) desempenha um papel de mulher de luta, de coragem, cheia de raiva e de sofrimento, que depois dessa tragédia passou a sobreviver em modo piloto automático. Pelo caminho encontramos o chef da Polícia, Willoughby, amigo de longa data de Mildred. Outra personagem maravilhosa que nos oferece cenas cómicas e outras dramáticas. Mas sempre num equilíbrio perfeito, sem descambar. E que difícil deve ser isso... Depois há também o agente Dixon que é um palerma, um incompetente e um imaturo. Durante o filme vai evoluindo, vai crescendo e vai aprendendo e dando lições.

Todas as personagens estão tão bem caracterizadas, tão claras, tão factuais que parecem reais. Quase que podíamos fazer um filme sobre cada uma delas, porque cada uma tem um background que explica sempre os seus comportamentos e perspetivas. Essa profundidade e complexidade de cada uma delas é o que torna o filme tão incrível: são pessoas como nós. Mesmo. Não há bons e maus na história - apesar de nos parecer que sim, no início. Durante o decorrer do filme conseguimos empatizar com a Mildred e também chega ao ponto de quase desejarmos que alguém a prenda. O mesmo com os polícias incompetentes - tanto desejamos que tudo lhes corra mal na história, como no minuto seguinte estamos a pedir desculpa por tudo o que pensamos deles... Como na vida, não é? Quantas vezes formamos opiniões precipitadas sobre as pessoas que nos rodeiam e depois nos arrependemos? É o que nos acontece nesta história. E isso é do caraças...

Bom, mas resumindo, que filme maravilhoso. Que construções incríveis. Que profundidade e que dicotomias combinadas na perfeição... Gostei mesmo muito desta história tão original e tão humana. É para ver gente!

Não é o meu filme favorito até agora, mas é o segundo.

Um Desastre de Artista
7,8 IMDb
Um Desastre de Artista é um filme baseado no livro homónimo escrito por Greg Sestero que conta a história das filmagens de The Room. Este filme atingiu o nível de culto por ser considerado "o melhor pior filme de sempre" pela incoerência da história e não só. No centro de tudo isto está o misterioso Tommy Wiseau, um homem que ninguém sabe de onde vem, quantos anos tem e nada de realmente significativo sobre a sua vida. Jura a pés juntos que é americano mas descobriu-se que as suas origens são da Europa de Leste, e mais não se sabe. Tommy tinha o sonho de ser uma estrela e criar um filme épico, um clássico cinematográfico. Então, com a ajuda do seu (ainda) melhor amigo Greg, financiou, produziu e atuou no seu próprio projeto - The Room. Mas o seu génio não era, de todo, compatível com a maioria dos restantes elementos da equipa e todas as histórias de set foram descritas no livro Um Desastre de Artista. Estreou em 2003 e, inicialmente, foi um flop de bilheteira, só estando em exibição em duas salas de cinema de LA. Porém, tornou-se um filme de culto e ainda hoje passa com frequência em todo o mundo (incluindo em Portugal) em sessões especiais.

Confesso que desconhecia por completo o The Room. Nunca tinha ouvido falar no filme, no livro nem no Tommy Wiseau. Na adaptação de Um Desastre de Artista, James Franco interpreta o papel de Tommy e o seu irmão, Dave, o de seu melhor amigo, Greg. Tudo começa com o inicio da amizade de ambos e termina na estreia do projeto ambicioso dos dois. Durante o processo somos confrontados com um homem que tem tanto de amigo e carinhoso como de arrogante e violento. Acima de tudo, Tommy é um sonhador que acredita que tudo é possível e que põe as mãos à obra. A história é contada de uma forma muito dinâmica e interessante, o que nos faz quer sempre saber o que vai acontecer a seguir. É essencialmente cómica e divertida, cheia de piadas certas na hora certa. Mas não nos podemos desviar: o trabalho é do James Franco. Interpreta o papel de uma forma tão credível que quase nos abstraímos que é ele que está ali. Quase que olhamos e não conseguimos identificar o Franco mais velho. E isso é de ator.

Um Desastre de Artista é um filme divertido, bem caracterizado, bem escrito e cheio de dinâmicas interessantes. É outro que deve ser visto.

Blade Runner 2049
8,2 IMDb
Meses que aguardei por este filme, senhores. MESES! Não consegui vê-lo no cinema e aguardei que viesse para o Cineclube. Veio em novembro. Quando ia tirar o bilhete informaram-me que houve um problema com a fita e que não iam exibir o Blade mas sim o Arrival (do mesmo realizador). Pena, já tinha visto e não me apetecia ver de novo. Voltei para casa com a promessa deles de que voltariam a passar. Aconteceu no primeiro domingo de janeiro.

Como vos hei-de dizer... A nível técnico é maravilhoso. É mesmo. É original, cheio de efeitos especiais perfeitos, cheio de pormenores acertados (e o que eu adoro os pormenores neste tipo de filmes) e com um cenário que é um agrado para os nossos olhos. Sabem o que aconteceu n'O Renascido em que em qualquer que fosse o segundo em que fizéssemos pause tornava-se numa excelente fotografia? É o que acontece com este filme: cada frame é uma pequenina obra de arte. Merece cada uma das nomeações aos Oscars nas categorias mais técnicas.

Mais do que isso, não.

O conteúdo não é, de todo, original ou surpreendente ou sequer inesperado. É até bastante previsível. Não há grande conteúdo, na verdade. Há muito pouco que extrair dali para além do deleite visual. A interpretação do Ryan Gosling não é nada de que me venha a recordar no futuro. A certo ponto achei até que o filme era quase chato - só não o foi por causa dos elementos visuais que estiveram sempre a distrair-me. Nem mesmo a interpretação do Jared Leto se fez notar por aí além. Desculpem, mas é a minha opinião. Talvez por ter visto, ultimamente, filmes bem melhores, esta foi a minha perceção. Talvez se daqui a uns meses o voltar a ver já não ache isto que vos estou a dizer... Quem sabe?

Ainda bem que não está nomeado para melhor filme, realizador ou atores, nem sequer argumento. Não seria merecido, ao contrário do que o realizador veio a público dizer. Mas merece cada uma das nomeações em categorias técnicas. Não posso dizer que merece ganhar, porque ainda não vi os restantes - mas competindo, por exemplo, com o Star Wars, dá-lhe 10 a 0 de olhos fechados e uma mão atrás das costas!

Get Out
7,7 IMDb
Já vi o Get Out há tanto tempo que já nem me lembrava que o tinha visto até ter lido o título entre os nomeados.

É a história de um rapaz negro que namora com uma rapariga branca e que vão visitar os pais desta durante um fim-de-semana. As coisas começam a parecer muito estranhas, mas só ele é capaz de as ver. Até que chega a altura em que lhe é desvendado o grande e maquiavélico segredo daquela família e daquela comunidade. Não vos posso contar mais, se não depois não tem piada.

Não sou muito de filmes de terror, mas sempre ouvi falar tão bem deste e gostei tanto da atuação do Daniel Kaluuya num dos primeiros episódios de Black Mirror (um dos meus favoritos) que assisti ao filme, numa das vezes que passou num TVCine. E gostei muito. Gostei principalmente por desfazer aquele mito de que um filme de terror tem que ser previsível e meio parvo. Este não o é. Agora sempre que alguém me disser "Não há nenhum filme de terror de qualidade!" - aquilo que eu sempre disse - eu vou dizer "Ai não? Então é porque ainda não viste o Get Out!". E vou também mencionar o Fragmentado que foi também um grande filme que vi em 2017. Já viram? Mas deviam!

Não é que seja beeeeeem beeeeem um filme de terror. É mais um thriller cheio de suspence e mistério. De jogos psicológicos. E é horrível e desconcertante. A interpretação do Daniel está no ponto e merece ter sido nomeado para melhor ator. Mas, no fundo, todos os outros atores estiveram muitíssimo bem nos seus papéis.

Mesmo que não gostem de filmes de terror, acho que vale mesmo a pena ver este. Vale mesmo. Vão por mim.


Esta foi a primeira remessa de filmes nomeados para os Oscars. Dentro de poucos dias trago-vos mais quatro - entre eles, o meu eleito até ao momento. Mas também gostava muito de saber a vossa opinião sobre estes e outros filmes que vos apeteça falar e mencionar. Venham de lá as vossas críticas e sugestões :)


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